Filosofia Zen

O ar frio ascende desde o vale. Está quase amanhecendo. Passei a noite inteira me movimentando pela via The Nose, do El Capitan, concentrado na rocha diante dos meus olhos, iluminada apenas pela luz fraca da minha lanterna de cabeça. De repente, penso no quão cansado e exposto estou: sozinho, sem corda e longe de qualquer possível ponto de abandono. Um surto de pânico percorre meu corpo. Tento pensar no topo, mas esse pensamento também é perigoso.

Uma imagem surge flutuando na minha mente. Estou seguindo meu pai, bem cedo pela manhã, por um pasto nas White Mountains, em New Hampshire. Caminhamos em direção ao parque Moose Brook, o lugar favorito dele para pescar. Eu sou pequeno, ainda nem tenho metade da sua altura, e o capim coberto pela geada chega quase até o meu peito.

Chegamos ao rio. Meu pai salta de pedra em pedra, seguindo a corrente até o primeiro remanso. Ele olha para trás, observando como estou. A água está gelada, e as pedras, cobertas de limo. Estou com medo de continuar. Penosamente, tento avançar pela mata de arbustos espinhosos, lamaçal e mosquitos, enquanto ouço meu pai me chamando. Os insetos me forçam a voltar para a margem do rio. Amedrontado, caminho com dificuldade pela água, tentando alcançá-lo. Nervoso e ansioso, tropeço e caio no rio.

Respiro com dificuldade na água gelada, mas consigo subir em uma pedra. Ali, começo a gritar até que ele volte. "Não gosto de pescar, quero voltar para casa."

Meu pai move a cabeça, e seus olhos cintilam. "Dean, não se preocupe. Não há nada a temer, é só um pouco de água fria. Apenas concentre-se no seu próximo passo."

Então, ele segue rio abaixo, com o sol refletindo sobre a água, enquanto o corpo dele parece se mover naturalmente para onde deve ir. Quase não pensa em nada, apenas reage ao que aparece diante de si.

Ele para de falar e volta a andar rio abaixo. Lentamente, vamos encontrando nosso caminho entre as pedras, pescando trutas-arco-íris e alpinas. O dia passa rapidamente, e minha confiança cresce. Logo já me divirto correndo entre as corredeiras, com os olhos bem abertos e os sentidos em alerta, sem perceber que acabava de receber minha primeira lição Zen.

O ar sopra contra meu corpo. Domino o instante. Esforço-me para alcançar a próxima agarra.

- Dean potter (14 de abril de 1972 - 16 de Maio de 2015)